O DIA EM QUE A MARÉ VAZOU
"Um dia, em uma cidade no fim do mundo, a maré se esvaiu e jamais retornou.
"O mar sumira sem aviso. Primeiramente, as pessoas apenas estranharam. E continuaram fofocando e brigando pelas coisas de sempre.
"Mas logo um silêncio desceu e permeou a cidade. Um deserto inacreditável se formava perante todos. As semanas corriam e ainda não havia sinal do mar.
E então elas ficaram preocupadas. Daí resolveram fazer uma busca na esperança de trazê-lo de volta. E conforme os dias se passavam, cada vez mais gente o procurava.
As pessoas procuravam mas o oceano sumira sem rastro.
"A terra sossegada, outrora fértil tornara-se dura e inacessível.
"Então, uma forma surgiu no horizonte. Em um furor de calor as pessoas viram o que parecia ser águas torrenciais a caminho. Uma onda de excitação varreu a cidade enquanto eles, ansiosamente, observavam o retorno do mar.
Mas na medida em que se aproximava, a forma se transmutava.
O que aparentava ser águas torrenciais era, na verdade, cavalos selvagens.
Para onde olhassem, viam cavalos se aproximando.
"A excitação tornou-se medo. E o medo tornou-se pânico. Nada poderia deter o avanço deles que, como o sumiço do mar, chegara sem dar aviso.
"Mas ninguém, nem mesmo por um instante, parou de se perguntar por que o oceano sumira.
As pessoas não tiveram escolha a não ser crer que os cavalos levariam-nas até o oceano. Sem arreios nem selas, elas cavalgavam pela terra árida.
Mas o oceano desaparecera para sempre.
E as pessoas, juntas, sozinhas, não tiveram escolha...A não ser encararem umas às outras e sua perda.Elas criaram um lar em um novo ambiente...Mas era uma vida que mudara para sempre.Elas aprenderam a viver no espaço que o mar deixara embora ele permanecesse em sonhos."
(In my father's den)