segunda-feira, março 26

*A Terra sem o Mar



O DIA EM QUE A MARÉ VAZOU

"Um dia, em uma cidade no fim do mundo, a maré se esvaiu e jamais retornou.
"O mar sumira sem aviso. Primeiramente, as pessoas apenas estranharam. E continuaram fofocando e brigando pelas coisas de sempre.
"Mas logo um silêncio desceu e permeou a cidade. Um deserto inacreditável se formava perante todos. As semanas corriam e ainda não havia sinal do mar.
E então elas ficaram preocupadas. Daí resolveram fazer uma busca na esperança de trazê-lo de volta. E conforme os dias se passavam, cada vez mais gente o procurava.
As pessoas procuravam mas o oceano sumira sem rastro.
"A terra sossegada, outrora fértil tornara-se dura e inacessível.
"Então, uma forma surgiu no horizonte. Em um furor de calor as pessoas viram o que parecia ser águas torrenciais a caminho. Uma onda de excitação varreu a cidade enquanto eles, ansiosamente, observavam o retorno do mar.
Mas na medida em que se aproximava, a forma se transmutava.
O que aparentava ser águas torrenciais era, na verdade, cavalos selvagens.
Para onde olhassem, viam cavalos se aproximando.
"A excitação tornou-se medo. E o medo tornou-se pânico. Nada poderia deter o avanço deles que, como o sumiço do mar, chegara sem dar aviso.
"Mas ninguém, nem mesmo por um instante, parou de se perguntar por que o oceano sumira.
As pessoas não tiveram escolha a não ser crer que os cavalos levariam-nas até o oceano. Sem arreios nem selas, elas cavalgavam pela terra árida.
Mas o oceano desaparecera para sempre.
E as pessoas, juntas, sozinhas, não tiveram escolha...
A não ser encararem umas às outras e sua perda.
Elas criaram um lar em um novo ambiente...
Mas era uma vida que mudara para sempre.
Elas aprenderam a viver no espaço que o mar deixara embora ele permanecesse em sonhos."

(In my father's den)

*Dizem ser a última que morre...mas morre?

ESPERANÇA

"Sua mente é um cemitério,
Seu coração é uma ilha.
Ela e eu não somos boas amigas,
Mas eu a conheço a vida toda.
Ela senta-se em minha barriga, vazia e distante...
Mas suas palavras de encorajamento não me ajudam.
Eu sei seus truques, suas falsas promessas.
"Vá embora", eu lhe digo.
"Estou ocupada, tenho o que fazer".
Mas esta conhecida nunca sabe quando partir.
Não é uma questão de por que ela me quer bem.
É mais uma questão de por que eu a deixo ficar."
(In my Father's den)

sexta-feira, março 23

* Ausência também se sente II


""


{mrs.anaterra, de ' Tempo Peregrino'}

quinta-feira, março 22

Do que está falando?

"Eu me contradigo? Muito bem, eu me contradigo. Sou vasta, contenho multidões.
"Na mesa de minha alma sentam-se muitos, e eu sou todos eles. Há um velho, uma criança, um sábio, um tolo. Você nunca saberá com quem está sentado ou quanto tempo permanecerá com cada um de mim. Mas prometo que, se nos sentarmos à mesa, nesse ritual sagrado, eu lhe entregarei ao menos um dos tantos que sou, e correrei os riscos de estarmos juntos num mesmo plano.
Desde logo, evite ilusões: também tenho um lado mau, ruim, que tento manter preso e que quando se solta me envergonha. Não sou santa, nem exemplo, infelizmente. Entre tantos, um dia me descubro. Um dia serei eu mesma, definitivamente."
(adaptado Walt Whitman)

quarta-feira, março 21

DEIXA-ME VER ONDE É O COMEÇO...SÓ UM MOMENTO


MUDANÇAS
Hoje eu vou mudar
Vasculhar minhas gavetas
Jogar fora sentimentos e
Ressentimentos tolos
Fazer limpeza no armário
Retirar traças e teias
E angústias da minha mente
Parar de sofrer
Por coisas tão pequeninas
Deixar de ser menina...
Pra ser mulher

Hoje eu vou mudar
Por na balança a coragem
Me entregar no que acredito
Pra ser o que sou sem medo
Dançar e cantar por hábito
E não ter cantos escuros
Pra guardar os meus segredos
Parar de dizer:
"-não tenho tempo pra vida
que grita dentro de mim"
...Me libertar

Hoje eu vou mudar
Sair de dentro de mim
Não usar somente o coração
Parar de contar os fracassos
Soltar os laços
E prender as amarras da razão
Voar livre
Com todos os meus defeitos
Pra que eu possa libertar os meus direitos
E não cobrar dessa vida
Nem rumos e nem decisões

Hoje eu preciso e vou mudar
Dividir no tempo e
Somar no vento
Todas as coisas que um dia sonhei conquistar
Porque sou mulher como qualquer uma
Com dúvidas e soluções
Com erros e acertos
Amores e desamores
Suave como a gaivota
E ferina como a leoa
Tranquila e pacificadora
Mas ao mesmo tempo
Irreverente e revolucionária
Feliz e infeliz
Realista e sonhadora
Submissa por condição
Mas independente por opinião
Porque sou mulher
Com todas as incoerências
Que fazem de nós...
O forte sexo fraco.
(Vanusa)

terça-feira, março 20

Auto-retrato


"Eu fragmentada,
retratada pelo tempo.
No avesso me reconheço,
no interno cresço.
Tudo o que emano,
é o resultado do que foi quebrado,
unido e colado.
Sem traumas, sem truques.
Da alma aos ossos.
Sem nós, só laços.
Eu fragmentada,
mais inteira do que antes.
Com mais sorte, bem mais forte.
Em busca da liberdade para atingir o próximo passo,
faço meu caminho e me
AUTO-RETRATO"


{Poema de AnaK
poetisa e mulher
profundidade sem pieguice
faz poesia com pedras
e mosaico com as mãos.}

segunda-feira, março 12

Sem forma de pudim!

Eles se amam de qualquer maneira
Eles se amam é pra vida inteira
Qualquer maneira de amor vale a pena

Qualquer maneira de amor vale amar

Qualquer maneira que eu cante esse canto

Qualquer maneira de amor me vale cantar

Qualquer maneira de amor vale aquela
Qualquer maneira de amor valerá

domingo, março 11

De todas as maneiras que há de amar

When somebody loves you
It's no good unless he loves you...
All the way

Happy to be near you

When you need someone to cheer you

All the way

Taller than the tallest tree is

That's how it's got to feel
Deeper than the deep blue sea is
That's how deep it goes when it's real

When somebody needs you

It's no good unless he needs you
All the way
Through the good or lean years
And for all those in between years
Come what may

Who knows where the road will lead us

Only a fool would say


But if you let me love you

It's for sure I'm gonna love you
All the way
All the way...

So if you let me love you

for sure I'm gonna love you

All the way

All...The ... Way...
(ALL THE WAY - Sinatra forever)

quarta-feira, março 7

A Lista


Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você

Sweet find of mine (for Khan)


OS VENTOS DO DESTINO
"Um barco sai para o leste e o outro para o oeste
Levados pelos mesmos ventos que sopram:
É a posição das velas,
E não os temporais,
Que lhes dita o curso a seguir.

"Como os ventos do mar são os ventos do destino
Quando navegamos ao longo da vida:
É a posição da alma
que determina a meta,
e não a calmaria ou a borrasca".

(Ella Wheeler Wilcox)

Terremoto

Terremoto na Indonésia. Dizem os medidores que de grande magnitude. Confesso que pra mim, brasileira, moradora do sudeste, o maior gemido da natureza já sentido são as enchentes das chuvas de janeiro, cuja responsabilidade sempre pode ser atribuída ao prefeito e as suas obras de fins meramente eleitoreiros, seja qual for o prefeito.
Rápido, assustador e definitivo. Assim, poderoso, podemos classificar um evento que derruba e destrói sem pedir nem perguntar. De pouco ou nada adianta o grito. A ajuda se vier, não vai minorar a dor. As perdas são tantas que o plano para o futuro é jamais buscar só pra não ter o que perder; pra não ser novamente privado do que tanto se quis. Os piores abalos talvez sejam os externos, mas indubitavelmente não tão transformadores.
Toda vida tem terremoto. Toda terra treme. São tremores anônimos, por vezes silenciosos, As estruturas que sustentam circunstâncias, condições e recursos são abaladas rápida, assustadora e definitivamente. Os mais corajosos podem resistir, os mais sábios se adaptar...É o seu modo próprio de lutar. De preferência em silêncio, porque por mais alentadores que choro ou grito pareçam o desabafo rouba a energia que deve ser canalizada de forma mais perene. Quando as coisas parecem ruir é o menos aconselhável. Por alguma razão quanto menor o alarde menor a destruição. Ao invés de espernear (deixe o luto pra depois, ora) tente salvar alguma coisa. Não há muito tempo pra escolher, mas há parâmetros a considerar.
Em um desastre natural, superado o primeiro impulso de agarrar qualquer coisa mesmo que inútil, tem-se por base o quanto custou obter ou a validade deste ou daquele objeto. Ou ente. Em geral salva-se apenas a própria vida, ou os filhos, ou a televisão. O que vier primeiro. Nos desastres fora das escalas, nem sempre se escolhe tão bem. Debaixo de grande risco tenta-se salvar a pele, a reputação, o emprego; ou o que for mais vergonhoso abdicar. Poucos optam por resguardar sua integridade, sua fé, sua esperança, ou sua inocência; ou o que for mais danoso perder.
C.S.Lewis diz que tudo que não é eterno é eternamente inútil. Em condições normais qualquer um consideraria insensato salvaguardar coisas que podem ser substituídas, ou até mesmo prescindidas. Mas a verdade é que no bojo dos acontecimentos tal clareza de espírito é turvada e tendemos a proteger o que menos importa, ao menos para sobrevivência do que realmente importa. Aos que não crêem que a eternidade seja real, pensar na posteridade não deixa de ser um bom termômetro. A troco de que deveria eu sofrer por uma coisa que tem pouca ou nenhuma utilidade, que não me fará crescer, nem há de me consolar, por mais paradoxo que isso possa parecer, no tempo incontestável da reconstrução? Sim, porque o “grande” propósito do “grande” terremoto é gerar um movimento, um inconteste e profundo modificar no ser, no sentir, no agir, no pensar. Um amigo, dias desses, disse algo que arrancou de mim uma sonora gargalhada. Disse ele que o ano de 2006 havia sido tão ruim que merecia ser homenageado em vez de esquecido, porque de tão ruim que fora o fez saltar da panela antes que começasse a água começasse a ferver... Rio-me de novo com a propriedade do símile. Dois mil e seis foi o ano do meu terremoto. Processo longo será esse o da reconstrução de algumas coisas, mas, para o bem de minh’alma, as coisas que se perderam, me parece, são fáceis de serem substituídas; tenho verificado quais das que se foram me é favorável preterir... Ainda contabilizo com quais valores sobrevivo.Assusto-me com as coisas tolas que tentei carregar e me confundo tentando recolocar as que trouxe. Alegro-me quando me deparo com as essenciais que mantenho comigo. Ainda rio de mim mesma esbaforida, gestos sôfregos e desesperados quando tudo quis cair por cima de mim.
Mas de tudo que passou algumas certezas acabei definindo e podem, então, servir de guia: a primeira é que não há menor garantia que não virão outros. Contrariamente há mais um dado estatístico que qualquer outra coisa: Terremotos se seguem e se dão sempre nas mesmas áreas. E nas mesmas circunstâncias. Há focos de tensão. A mim só resta atentar quais sejam. Prevê-los e aprender sempre a carregar apenas o que importa, pra que o próximo doa menos, sirva mais e dure pouco. No jargão dos sábios entendidos a científica constatação: “Considerando a magnitude do terremoto, pode ser que haja novos tremores residuais durante uma semana”. No dizer do meu coração: “Por favor, terra, trema pouco”. Por ora, trema pouco.
{mrs.anaterra}

O processo que faz tremer


(...)” Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos,
Entre tombos, e perigos e ausência de amanhãs,
E tudo isto devia ser qualquer outra coisa mais parecida com o que eu penso,
Com o que eu penso ou sinto, que eu nem sei qual é, ó vida.”
Fernando Pessoa